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Bonet, Técnica literária
01/07/2015, 10h30m.
B1968t. Bonet, Carmelo M. (1968). A técnica literária e seus problemas. Trad. Miguel Maillet. São Paulo : Mestre Jou, 1970. Bib. part..
"Em matéria de preceitos, não existem mais que dois; o primeiro é que se deve nascer com gênio, e isto é assunto de vossos pais, não meu; o segundo aconselha a trabalhar muito a fim de dominar a arte: é assunto vosso e tampouco é meu" (H. Taine) /9
"Pode-se ensinar a escrever a quem não sabe, desde que tenha o necessário para saber" (Albalat) /9
"As ideias, como as pessoas, são julgadas pela aparência; até os cães ladram aos indivíduos mal ajambrados" /15
"Tout passe. L´art robuste / seul a l´eternité. / Le buste / survit à la cité. (T. Gauthier) /15
"da Grécia legendária ... nada mais resta ... Mas sobre essas ruínas florescem, vivos como grandes pássaros, o s hexâmeros de Homero, isto é, o que parecia mais débil, menos vivente, mais inconsistente ... Os versos de Virgílio e de Horácio, mais resistentes que o bronze ..., sobrevivem às muralhas, aos circos, aos aquedutos" /16
Estética clássica: plano, arte medida a compasso; unidade de ação, regra aristotélica. Qualidade básica do estilo: clareza. Arte racionalizada. A razão ordena.
Romantismo: bela desordem, primazia ao lírico sobre o épico, impulso sobre cálculo /39
obras invertebradas, sem unidade de ação, fogem ao perigo da dispersão tomando por eixo ou pivô a história de uma vida
Ensaio: mínimo de ordem, trabalho de egotista, conversa sem interlocutor.
Realismo requer adequação entre fundo e forma, as palavras devem combinar com o personagem, exige igualdade no mundo das palavras; exclui, como personagens preferidos, os ricos que o classicismo preferia; escolhem a burguesia. Exclui as criaturas excepcionais, nos dois sentidos, bom e mau. "Despenca com um alude essa multidão que chafurda, procria e cheira mal nos romances naturalistas, ínfima humanidade que penetra na literatura com seus defeitos, suas virtudes e suas palavras" /127
no idealismo ou romantismo a fala do personagem é idealizada, como os homens e as coisas. Tudo é dito em tom maior, inflando o peito, com ênfase de tenor italiano /60 Os românticos preferem as criaturas excepcionais, os sublimes e grotescos /127
Notar: a linguagem na tragédia clássica não era coloquial, mas artificiosamente elevada /72
Na arte "é justamente a forma que muda e envelhece com a maior rapidez. É indispensável, antes de tudo, que a obra tenha vida, e só terá vida sob condição de ser verdadeira. O escritor só atinge a imortalidade se consegue por de pé criaturas vivas" (Zola) /62
"As qualidades de forma servem para sobreviver dentro da própria literatura; as de fundo, para alcançar a universalidade" /64
"A filosofia, a ciência, a literatura têm seu capítulo triste na história: o cemitério onde se conservam os nomes dos defuntos ilustres e um resumo da sua obra" /65
"Existe, pois, uma sobrevivência completa e outra parcial. Completa quando a obra não perde o viço na passagem do tempo e o autor atravessa os séculos montado sobre ela. Parcial quando sobrevive o nome, apenas o nome, na história da ciência, da filosofia, da literatura, enquanto a obra dorme nos arquivos, nas estantes esquecidas, como peça de museu, documento arqueológico ou histórico. O conteúdo não morreu, mas foi transplantado a obras posteriores que nasceram com a graça do estilo" /66
"Eu não digo que enfeites nossa língua castelhana, mas apenas que lhe laves a cara" (A. de Morales) /74
As palavras nascem concretas e vão mudando para abstratas. Espírito vem de sopro. Estilo de estilete. O idioma evolui do concreto para o abstrato. O sentido primitivo é físico. E mudam de sentido no processo. Maduro, em latim, era adolescência e manhã, alvorada. Ministro era um criado, servo, de baixa hierarquia. Valetudinário era sadio. Pleito era concordância, convênio.
"Não temo afirmar que na hora presente, não entendemos um só verso da Ilíada ou da Divina Comédia, no sentido que tinha primitivamente" (A. France) /81
Melhor que uma palavra signifique várias coisas, do que ter várias palavras para a mesma coisa /83
"escrevemos para que nos entendam os vivos e não os mortos" /84
Fadiga, repulsivo literário. "Tudo cansa. Esgotado um módulo estético, procura-se alívio num antagônico" /84. A clareza degenera em hermetismo.
O poeta barroco não escreve para o vulgo, mas para os iniciados, para os membros de sua confraria. /85 O poema é um mistério, do qual o leitor deve buscar a chave /88.
"fiquei honrado por haver parecido obscuro aos ignorantes, que assim se distinguem os homens doutos" (A. Reyes) /89
"o caos mental é frequentíssimo entre os papa-livros ... basta ler depressa, digitalmente, saltando páginas e capítulos ... ler o absolutamente necessário para "ter uma ideia". Como não se medita, como não se rumina, não se digere essa leitura. Empanturra-se o cérebro com ideias larvárias, amputadas, contraditórias, convertendo-o em gaveta de sapateiro. Em tais casos, a confusão mental é permanente e quando se escreve, transmite-se essa confusão" /99 Caos mental, entupimento de leituras, amontoamento desordenado de erudição /101
"selvas de palavras onde se extravia o leitor mais experimentado e onde se perderia o próprio autor se lesse pela segunda vez o seu mal engendrado rebento" /100 intermináveis parênteses, frases incidentais, gerúndios, o sujeito afasta-se quilometricamente do verbo correspondente. fugir do períodos muito atulhados, do matagal de palavras
"puxa-se um pouco para o difícil, com afetada gravidade, e assim o superficial parece profundo" /101
"Nada é mais fácil do que escrever de modo que ninguém compreenda, como nada é tão difícl quanto exprimir ideias importantes em linguagem acessível a todo mundo" /103
"Não há ideia filosófica, por profunda ou sutil que seja, que não possa ser expressa na língua de todo mundo" (Bergson) /104
Moratin: "vou falar grego, para ser mais claro" /106
"os escritores nebulosos têm um deus à parte" /107
Vitor Hugo; "ao sair do colégio, enfartado de versos latinos, insociável, pálido, grave, a fronte inclinada, o corpo debilitado, procurou compreender e julgar. Abriu os olhos diante da natureza e da arte e deu-se conta que o idioma era a imagem do reino. Da mesma forma que no reino, havia no idioma, povo e nobreza, palavras mal nascidas e bem nascidas. Umas, as nobres, revestiam as tragédias, frequentavam as Fedras, as Jocastas, as Meropes. Eram palavras decorosas e subiam em Versalhes até o palácio do rei. As outras, patibulares, mendigas, infestadas de gírias, vestidas de andrajos, sem meias, sem peruca, destinadas a todos os baixos ofícios e a circular pelos mercados, só eram admitidas na prosa e no teatro burlesco" /121
"Não mais palavras senadoras, não mais palavras plebeias! / Desencadeei uma tempestade no fundo do tinteiro." (V. Hugo) /121
"Eu disse às palavras: "transformai-vos em república, sede um formigueiro imenso e trabalhai" ... peguei do verso nobre, virei-o pelo avesso e o arremessei aos cães da prosa" (V. Hugo) /122
"os cachorros negros da prosa estão soltos" /124
"seus versos sucedem-se como soldados em desfile, não precisam estar ligados como vagões de trem" /142
"o adjetivo é a pedra preciosa da frase, mas muitas vezes não passa de miçanga. O vício da adjetivação torna aguada e enfraquece a expressão, conduz ao estilo poroso". Musset: romantismo é abuso de adjetivos /146-7
"O adjetivo é o ponto fraco dos novatos: não podem imaginar um substantivo solteiro" /147
"toda virtude exagerada degenera em defeito" /217
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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